quinta-feira, 28 de março de 2013

Coração Denunciador -Edgar Allan Poe

 É verdade! Tenho sido muito, muito, terrivelmente nervoso. E sou. Mas por que quer dizer que sou louco? A doença aguçou meus sentidos, não destruiu nem embotou. Acima de tudo, havia o sentido de ouvir agudamente. Ouvi todas as coisas do céu e da terra, ouvi muitas coisas do inferno. Como é, então, que sou louco? Prestem atenção! E observem com que sanidade, com que tranquilidade posso lhe contar a história da vida.
  É impossível dizer como é que a ideia surgiu primeiro no meu cérebro. Mas assim que foi concebida, assombrou-me noite e dia. Não havia motivo. Não havia paixão. Eu adorava o velho. Ele nunca me enganara. Nunca me insultava. Eu não desejava seu ouro. Será que foi seu olhar? Sim, foi isso! Um dos seus sonhos parecia o de um abutre- um olho azul pálido, com uma membrana de catarata. Sempre que me fixava, meu sangue engelava; assim, pouco a pouco, bem devagar, imaginei tirar a vida do velho e me libertar daquele olho para sempre!
  Agora, é essa questão. Vocês acham que sou louco. Os loucos não sabem de nada. Mas vocês deveriam ter-me visto. Ter visto como fiz tudo com tanto cuidado, com tanta prudência, com que dissimilação agi! Nunca fui mais gentil com o velho do que durante a semana antes de matá-lo. E toda noite, por volta da meia-noite, eu girava a maçaneta da sua porta e a abria - com que delicadeza! E daí, quando conseguia uma abertura suficiente para minha cabeça, eu colocava uma lanterna com tampa, toda coberta, para não haver o brilho de nenhuma luz, depois enfiava a cabeça. (...)
  Meu coração batia forte como de ele me dissesse, não só a mim, mas gritava ao mundo, que e era o culpado, culpado pelo meu pensamento de morte.
  Não sabia mais o que fazer, estava pálido, suando frio, porquê? Toda noite ia lá e não sentia nada, mas hoje, justamente hoje, estava diferente, lembrava dos filmes de terror, dos assassinos da novela, das notícias da TV e me sentia um bandido, uma sensação horrível.
  O velho se mexeu e sai correndo, desesperado, com medo do nada. Ele não tinha me visto, mas estava com medo, a sensação de assassino não parava, mesmo eu não tendo feito nada...
  Voltei ao quarto do homem, com medo, mas sabia o que tinha que fazer, o porquê,ninguém sabia, muito menos eu. Tirei a faca do bolso, tremendo, o coração acelerado, lembrei-me novamente das cenas dos filmes, não queria, mas tinha que matá-lo.
  O gato preto do velho acordou, me olhou carinhosamente, deixei-o de lado e voltei à minha missão. A faca se aproximava do coração, estava prestes a assassinar um homem, como posso?
  De repente o gato me olhou novamente, dessa vez com olhos vermelhos, tremia, pulou em cima do velho, que ao ver o estado do gato e eu com a faca, desmaiou, ou morreu, não sei ao certo.
  Uma luz forte e vermelha me cegou, apaguei, não me lembro mais de nada, depois de algum tempo acordei, num cemitério, em cima da tumba onde o velho estava enterrado, do meu lado o gato, com os olhos ainda vermelhos, de repente, ele se transformou em uma criatura assombrosa, talvez o diabo, mas do mal. Olhou-me fixamente e me disse com voz grossa: -Cumpriu sua missão, parabéns!
  Depois disso desapareceu e voltei à minha casa, não era louco era a criatura dentro de mim, olhei em cima da cama do velho e lá estava meu coração, com um bilhete. Minha missão começava de novo...

Thayná Strapasson - 9º ano - CNEC Colombo



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